quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Verso & Prosa

Trecho: Guerra dos Tronos

Bran não tentou segui-los. Seu pônei não era capaz de acompanhá-los.

Vira os olhos do homem esfarrapado, e estava agora pensando neles. Após algum tempo, o som das gargalhadas de Robb atenuou-se e os bosques ficaram silenciosos novamente.

Estava tão embrenhado nos seus pensamentos que não ouviu o resto do grupo, até que seu pai pôs o cavalo a par com sua montaria.
– Está bem, Bran? – perguntou, não sem simpatia.

– Sim, pai – disse Bran. Olhou para cima. Envolto em peles e couros, montado no grande cavalo de guerra, o senhor seu pai pairava acima de si como um gigante. – Robb diz que o homem morreu bravamente, mas Jon disse que ele tinha medo.

– E o que pensa você? – perguntou-lhe o pai.

Bran refletiu sobre o assunto.

– Pode um homem continuar a ser valente se tiver medo?
– Esta é a única maneira de um homem ser valente – seu pai respondeu. – Compreende por que o fiz?
– Ele era um selvagem – disse Bran. – Eles roubam mulheres e vendem-nas aos Outros.

Seu pai sorriu.

– A Velha Ama tem andado outra vez a lhe contar histórias. Na verdade, o homem era um insurreto, um desertor da Patrulha da Noite. Ninguém pode ser mais perigoso. O desertor sabe que sua vida está perdida se for capturado, e por isso não vacilará perante nenhum crime, por mais vil que seja. Mas você não me compreendeu bem. A pergunta não era sobre o motivo por que o homem tinha de morrer, mas sim por que eu tive de fazê-lo.
Bran não tinha resposta para aquilo.
– O rei Robert tem um carrasco – respondeu, em tom incerto.
– Tem – admitiu o pai. – E os reis Targaryen também tiveram antes dele. Mas o nosso costume é o mais antigo. O sangue dos Primeiros Homens ainda corre nas veias dos Stark, e mantemos a crença de que o homem que dita a sentença deve manejar a espada. Se tirar a vida de um homem, deve olhá-lo nos olhos e ouvir suas últimas palavras. E se não conseguir suportar fazê-lo, então talvez o homem não mereça morrer. Um dia, Bran, será vassalo de Robb, mantendo um domínio seu para o seu irmão e o seu rei, e a justiça caberá a você. Quando esse dia chegar, não deve ter nenhum prazer na tarefa, mas tampouco deverá desviar os olhos. Um governante que se esconde atrás de executores pagos depressa se esquece do que é a morte.

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